“Mais uma vez Jair Bolsonaro ganha”

Saulo Miguez
3 min readNov 10, 2020
Charge de Aroeira

Cento e sessenta e duas mil seiscentos e trinta e oito (162.638). Esse é o total de mortes registradas pelo novo coronavírus até então no Brasil. Só estamos atrás dos Estados Unidos e passamos com folga a Índia, apesar da população cinco vezes maior e do estado de subdesenvolvimento do país asiático.

Em meio a essa calamidade, o governo brasileiro segue minimizando a pandemia e, pior do que isso, assumiu de vez a covid-19 como arma de enfrentamento político aos opositores (ou supostos opositores).

Na segunda-feira (9), a Anvisa suspendeu os testes com a Coronavac, vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac e que vem sendo pejorativamente chamada pelo presidente da República e seus seguimores de “vachina”. No Brasil, a Sinovac vem fazendo o estudo em parceria com o Instituto Butantan.

Apesar da Anvisa de não ter esclarecido qual “evento” levou à suspensão dos testes no país, o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse hoje que trata-se de um fator externo e, portanto, sem relação com a vacina. O imunizante, segundo ele, tem se mostrado seguro até então.

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, esclareceu que o tal evento adverso foi um óbito sem relação com vacina e que o caso foi devidamente comunicado à Anvisa no dia 6 de novembro. Só ontem à noite, no entanto, o instituto foi notificado, por e-mail, sobre a suspensão dos testes.

“Sempre respeitaremos os dados do paciente em questão, entendendo que evento adverso grave é todo aquele que envolve pessoa que está no estudo. Por exemplo um atropelamento é um evento grave para a pessoa, mas não está relacionado com vacina. Dessa maneira, nesse caso tivemos evento externo que colaborou para haver notificação ao órgão regulador”, explicou Covas.

O que há de concreto nessa história é que a medida da Anvisa ocorreu no mesmo dia em que o governador de São Paulo, João Doria, anunciou que o primeiro lote da Coronavac chegaria ao estado no dia 20 de novembro. Bolsonaro, ao ser questionado por um seguidor se o país compraria a vacina chinesa mesmo com a confirmação da eficácia respondeu que:

“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”

“Mais uma vez Jair Bolsonaro ganha” — o presidente da República, se valendo de uma determinação cujo embasamento não foi sequer publicado, levou a pauta de saúde pública que mais preocupa o mundo hoje para o campo do embate pessoal.

Para o presidente da República, “ganhar de Dória” ou de qualquer outro governador, prefeito, deputado, senador, jornalista, sanitarista, epidemiologista, jurista, cidadão, enfim, qualquer figura que faça oposição às ideias dele é mais importante do que imunizar o povo que o elegeu.

Antes mesmo de assumir o mandato, Bolsonaro deixou claro que faria do espaço de poder a cozinha da própria casa. Assim, não fez questão de esconder seu autoritarismo e interferiu diretamente na estrutura do Estado, com trocas de ministros, inclusive, visando mascarar os abusos daqueles que compõem a sua base familiar e política.

A perversidade do presidente e abuso de autoridade do chefe de Estado, no entanto, parece não ter limite e esse episódio envolvendo a vacina contra a covid-19 só reforça a necessidade dos tribunais internacionais, que julgam crimes contra a humanidade, olharem com toda a atenção para o Brasil. O momento é delicado.

A crise sanitária que atinge o mundo é sentida com mais intensidade no por aqui, sobretudo, porque a autoridade máxima do país e que assumiu o compromisso de “Manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil” é um egocêntrico insano com tesão por genocidas, que idolatra a tortura tal qual um sadomasoquista e é totalmente alheio ao sofrimento daqueles que realmente precisam de cuidado.

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Saulo Miguez

Jornalista formado na Facom UFBA, apreciador da liberdade de expressão, futebol, cinema, literatura e do Art. 5º da Constituição Federal Brasileira de 1988.