A última bandeirada

Saulo Miguez
2 min readMay 21, 2019

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Foto: Getty Images

Apaixonado por carros desde a infância, assim que a idade lhe permitiu, tornou-se piloto. Chegou à Formula 1 aos 22 anos e duas temporadas depois foi contratado pela Ferrari, onde ganhou seu primeiro GP no circuito de Jarama, Espanha, em 28 de abril de 1974.

No ano seguinte, venceu cinco das 14 corridas e conquistou o primeiro título. Nos seis primeiros grandes prêmios da temporada seguinte, venceu quatro e ficou em segundo em outros dois. A promessa de ano glorioso foi interrompida por um grave acidente no circuito de Nürburgring, na Alemanha.

A Ferrari pegou fogo e o piloto, preso às ferragens, incendiou junto com o carro. Ao ser socorrido por quatro companheiros de prova constatou-se o estrago: graves queimaduras no rosto e na cabeça, orelha desconfigurada, intoxicação por inalação de fumaça. Os ferimentos o deixaram em coma por vários dias e sobreviver já seria um milagre.

Seis semanas depois, superando as expectativas médicas, o piloto com o rosto coberto por cicatrizes estava de volta ao grid. Ficou em quarto naquela prova e terminou o campeonato na segunda colocação, apenas um ponto atrás do campeão.

Nas temporadas de 1977 e 1984 voltou a conquistar títulos sagrando-se tricampeão mundial da Fórmula 1. Em meados da década de 1980 aposentou-se das pistas para abraçar a sua segunda, porém, não menos perigosa paixão: os aviões. À frente da Lauda Air, passou a empreender nos segmentos de linhas aéreas e voos charter.

A mudança de circuito não significou menos obstáculos pelo caminho. Tal qual um persistente carro de corrida ou um teimoso avião de guerra, teve peças avariadas e substituídas, passou por retíficas, mas não abandonou o páreo.

Foram três órgãos transplantados, muitas horas de internamento e uma incessante luta pela vida. De forma que a partida da lenda austríaca Andreas Nikolaus “Niki” Lauda, aos 70 anos, não tem a cor amarela da bandeira que anuncia que o carro de segurança está na pista e a prova será interrompida. Niki, certamente, foi recebido com o tradicional pano alvinegro quadriculado, que marca a chegada dos campeões — e daqueles que não desistiram — ao final da última volta.

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Saulo Miguez

Jornalista formado na Facom UFBA, apreciador da liberdade de expressão, futebol, cinema, literatura e do Art. 5º da Constituição Federal Brasileira de 1988.